sábado, 1 de março de 2008

DROGAS*** Não deu certo . E agora?

"Em junho de 1998 aceitei o convite para viajar a Nova York,a fim de acompanhar a XX Assembléia da Organização das Nações Unidas(ONU) . Era dedicada ao fenômeno das drogas ilícitas, em face dos aumentos planetários da oferta , do consumo e da toxicodependência.
O slogan escolhido para o encontro não poderia ser pior: "Um mundo livre das drogas, poderemos consegui-lo".
Mais uma vez a utopia. Ou seja, a possibilidade de um mundo sem usuários de drogas , a fazer tábula rasa do contado,nos séculos VI e V a.C.,por Heródoto e Homero.
Naquele 1998,dentro e fora do Palácio de Vidro,sede da ONU,havia muita agitação .
Na sede encontrava-se,por exemplo,o secretário Kofi Annan,hoje um aposentado dedicado a negociar castelos. Também o então presidente dos EUA,Bill Clinton, como cabo eleitoral da mulher traída.
Lembro , ainda ,de Carlos Menem , no momento uma espécie de morto civil com risco de nova prisão. Também estavam Fernando Henrique Cardoso, e o boliviano Hugo Banzer que serviu ao narcotráfico quando ditador.Não faltaram os africanos . Alguns comovidos com o falecimento ,em razão de overdose de heroína,do general e narcoditador nigeriano Sani Abacha.
Fora da sede da ONU , numa espécie de assembléia paralela , para usar um termo de antanho , um respeitado grupo de intelectuais progressistas, um ex-secretário geral da ONU e ativistas políticos ,entre eles o então candidato Luiz Inácio Lula da silva.
A referida assembléia fixara o prazo de dez anos,ou seja, até 2008, para atingir a sua meta. Dispensável concluir que em 2008 não teremos um "mundo livre das drogas""nem poderemos obtê-lo". Mais : de 1998 a 2007 , a situação agravou-se pela consolidação de narco-Estados e de Estados cúmplices .
Pelo sistema bancário-financeiro internacional ,a "indústria das drogas" continua a movimentar, anualmente, cerca de 300 bilhões de dólares.
Nos EUA , onde está o maior consumo , ingressam , anualmente , 275 toneladas de cocaína através do México. E pelo México passa 80% da cocaína destinada ao mercado norte-americano.
Em 2007 , as apreensões dessa droga pelas autoridades mexicanas não ultrapassam 36 toneladas . E desde 2006 os cartéis mexicanos tomaram o lugar dos colombianos na intermediação da oferta de cocaína , heroína e maconha para o mercado consumidor dos EUA.
A fórmula adotada na assembléia de 1998 , com fixação de prazo , já era conhecida. Em 1961 , a Convenção Única de Nova York da ONU fixara o prazo de 25 anos para a extinção das áreas de cultivo .
A Convenção entrou em vigor em 1964 e teve o fracasso comprovado em 1989.
Com efeito , quer em 1961 , quer em 1998 , adotou-se a política norte-americana da guerra às drogas. Uma linha militarizada que continua nos EUA , no México e , agora, no Rio de Janeiro.
Para o presidente Mexicano , a militarização é a única fórmula eficaz de contraste. Diante de uma política corrompida pelos cartéis , onde até o general mexicano antidrogas se envolveu e foi condenado, Calderón e o antecessor , Vicente Fox , apelaram para o exército , sem sucesso .
Nos quase dez anos da Assembléia da ONU e de permeio os fracassados planos Colômbia e Dignidade (na Bolívia) , os dados que acabam de ser apresentados no México não deixam dúvidas do caminho equivocado e da necessidade de mudanças nas políticas das Nações Unidas.
Entre 2000 e 2007 , o consumo aumentou 50% no México. Nesse período , foram presas 90 mil pessoas ligadas às redes do narcotráfico. Dos chefões dos cartéis ,40 potentes foram encarcerados.
No governo Fox (2000 a 2006) , foram assassinadas , por crimes relacionados com o tráfico de drogas , 9 mil pessoas.
Já o do recém-empossado Calderón contabiliza 2,8 mil mortos em menos de um ano.
Atualmente , 3,5 milhões de mexicanos já experimentaram drogas proibidas ao menos uma vez: o México tem 104 milhões de habitantes. Mais de 500 mil cidadãos mexicanos utilizam drogas ilícitas habitualmente , com 280 mil dependentes químicos carentes de tratamento.
Apesar da falência do pactuado na assembléia especial e da enganosa estratégia de guerra às drogas , Bush e Calderón , em 2008 , continuarão unidos no militarizado Plan México. De preferência , sem lembrar do Plan Mérida , causador de mortes de inocentes e protestos internacionais."

[ Wálter Fanganiello Maierovitch,16/01/o8,para Carta Capital].

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